Um dos subprojetos de pesquisa em execução na Fundação Casa de José Américo (FCJA) é ‘Os modernismos na Paraíba e o circuito de comunicação da revista Era Nova (1921-1926)’, que registra boa parte da história da imprensa e da sociedade paraibanas da década de 1920.
Com a coordenação da professora Alômia Abrantes da Silva (UEPB/FCJA), as pesquisas tiveram início em abril deste ano, com previsão de conclusão em março de 2025. Trata-se de um subprojeto que integra o projeto geral ‘Preservação da memória e difusão educativa, cultural e científica do acervo da Fundação Casa de José Américo’, em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB).
A equipe da professora Alômia é composta pelos pesquisadores Aline Praxedes de Araújo (História/SV), Turla Ângela Alquete de Arreguy Baptista (Design/IFPB), Ana Esther de Carvalho Sarmento (Design/UFPB) e Luiz Arthur Villarim Jácome (História/UFPB), com participação voluntária do professor Luiz Mário Dantas Burity (História/UEPB/FCJA).
O objetivo principal, segundo a coordenadora, é aprofundar a investigação histórica sobre a revista ilustrada e modernista Era Nova, editada na então Parahyba do Norte e que circulou quinzenalmente de 1921 a 1926. Alômia detalha que a nova fase do projeto é pesquisar sobre seus editores e principais colaboradores, traçando linhas de investigação sobre sua circulação e elementos de recepção.
“Contamos com a expertise de estudiosos da área do Design para discutir aspectos de sua memória gráfica. Depois da digitalização dos cem números da revista, realizada ano passado, na vigência do então subprojeto ‘O modernismo na Paraíba: a revista Era Nova e a novela Reflexões de uma cabra’, estamos também finalizando detalhes quanto ao acervo digital dessa publicação, para que futuramente possa ser colocado disponível ao público interessado, da forma mais completa possível”, detalha a professora.
O grupo de pesquisadores desse subprojeto se subdivide em demandas ligadas à história, à memória gráfica e ao aporte técnico (organização da coleção digital). Alômia Abrantes adianta que a revista Era Nova constitui um marco na vida intelectual e cultural da Paraíba, porém é ainda pouco conhecida fora dos círculos acadêmicos e, mesmo nesses, pouco abordada quando se pensa uma história da imprensa brasileira.
“Com este subprojeto, a FCJA está contribuindo de forma consistente para que a Era Nova possa ser mais ampla e qualitativamente conhecida, ocupando seu merecido lugar na história e memória gráfica dos periódicos ilustrados e modernistas que circularam no Brasil no início do século XX”, avalia.
Concluída a pesquisa, o produto final, a ser disponibilizado ao público e pesquisadores, constará de relatórios, artigos em revistas e anais, a publicação de dois livros, em formato e-book, além de um livro impresso, em parceria com o professor Luiz Mário Dantas Burity, que coordenou a fase anterior do subprojeto, sobre a história da Era Nova, trazendo análises da conceituação de modernismo de estado, historicizando sua criação e aspectos da sua produção intelectual e gráfica.
Também será organizada uma coletânea com autores, vinculados a diferentes instituições, que utilizam a Era Nova como principal fonte documental de suas investigações. Cada publicação contará com divulgação ampla e ambas devem ser lançadas na nova edição do evento dedicado à revista, aberto ao público, que “coroará o final desta fase atual do projeto”, e que está sendo idealizado no formato de uma exposição sobre a revista e seu contexto histórico e cultural.
A Era Nova foi uma revista ilustrada, com publicações quinzenal, editada na Cidade da Parahyba, entre 27 de março de 1921 e 24 de outubro de 1926, totalizando exatos 100 números publicados. Impressa em parte em papel couché, em parte em papel sulfite, o periódico contava com fotografias, ilustrações e um projeto gráfico arrojado, na medida do que havia de mais moderno em termos técnicos e de discurso literário e visual na imprensa periódica da época.
A ideia partiu de um grupo de intelectuais da elite paraibana: Severino Lucena, Guimarães Sobrinho, Horácio de Almeida, J. J. Gomes, Epitácio Vidal e José Pessoa, mas ao qual logo se juntaram os confrades das rodas literárias, como José Américo de Almeida, Carlos Dias Fernandes, Celso Mariz, Alcides Bezerra, Eudésia Vieira, Analice Caldas, monsenhor Pedro Anísio, Diógenes Caldas, entre outros.
Os editores da revista prometiam, desde as suas primeiras páginas, “alargar o horizonte cultural da sociedade paraibana”, como anunciava o seu editorial de abertura, “cooperando em prol das ideias fecundas, que são o apanágio intelectual dos povos cultos” (Era Nova, 27 de março de 1921).
A revista Era Nova, na prática, era um periódico ilustrado, de inspiração modernista, que prometia apresentar ao público paraibano as novidades na literatura, nos hábitos sociais, nas modas e nas artes gráficas. Há ainda em suas páginas referências ao automóvel, ao avião, ao cinema e à arquitetura, bem como a antigos hábitos da sociedade paraibana.
Na capa e no interior da revista há fotografias de jovens senhoritas, tipo uma espécie de colunismo social. Tinha uma coluna de abertura do periódico, assinada por José Américo de Almeida, bem como a novela ‘Reflexões de uma cabra’ (1922), publicada como resultado dos experimentos esboçados nesse espaço de discussões literárias.
O ‘Projeto de Preservação da memória e difusão educativa, cultural e científica do acervo da Fundação Casa de José Américo’, com coordenação geral da professora Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, é realizado pela FCJA por meio de uma parceria com a Fapesq-PB e ainda tem o apoio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba (Secties-PB).
Jornalista, radialista e advogado, formado na UFPB, Hermes de Luna tem passagens nos principais veículos de comunicação da Paraíba. É MBA em Marketing Estratégico e em mídias digitais. Apresentador e editor de TV e rádio, também atuou na editoria de portais e sites do estado. Ganhador de vários prêmios de jornalismo, na Paraíba e no Brasil.